O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras – Parte 1

18 de maio de 2023

Há pouco tempo, as populações jovens (pessoas entre 15 e 29 anos) não eram reconhecidas como sujeitos de direitos. E olha que entender a juventude como recorte etário é de extrema relevância para a compreensão da nossa realidade. Por isso (e que bom!), ultimamente, especialistas vêm usando o termo juventudes, no plural.

Essa fase etária é complexa, não é mesmo? Destaca-se por especificidades expressivas: envolve boa parte da adolescência, com suas transições e descobertas, é marcada por passagens importantes e nem sempre lineares, como fechamentos de ciclos formativos na educação, inserção no mundo do trabalho e início da constituição familiar.

Se analisarmos apenas o contexto brasileiro da última década, o calo aperta mais para esse grupo – as rápidas mudanças no mercado de trabalho, articuladas às crises econômicas, têm desafiado a inserção laboral de parcela significativa dessa população, que está em enfrentamento contra as altas taxas de desocupação, os baixos salários e uma situação geral de incertezas quanto ao futuro.

E, infelizmente, o recorte social é implacável: as desigualdades persistentes de raça, cor, gênero e renda fazem emergir parcelas de jovens vulnerabilizados que tendem, claro, a ser mais atingidos pela falta de oportunidades.

Dentre as muitas dimensões que impactam a entrada (ou exclusão) de jovens no mercado de trabalho, está o debate sobre a formação profissional – caminho estratégico para a inclusão produtiva das nossas juventudes.

Nesse cenário, o estudo O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras, apresenta tendências a fim de identificar oportunidades para a inclusão produtiva desse público, traçando recomendações para atores estratégicos, com foco na formação profissional e tecnológica.

O levantamento é uma iniciativa da Fundação Telefônica Vivo, Itaú Educação e Trabalho, Fundação Roberto Marinho, Fundação Arymax, e GOYN SP com execução do Instituto Cíclica em parceria com o Instituto Veredas.

Nesta primeira parte da entrega, o Dialogando apresenta um panorama geral com dados importantes para você entender a jornada desafiadora que nos aguarda nessa missão.

Vamos lá?

Panorama geral das juventudes brasileiras

Considerando os recortes etários disponíveis, pessoas com idade entre 15 e 29 anos representam um percentual de 24,65% de uma população de 212,7 milhões de pessoas.

Com relação ao gênero, nos grupos etários até os 9 anos, há prevalência do sexo masculino. No entanto, como a mortalidade dos homens é maior do que a das mulheres em cada idade, a razão de sexo tende a diminuir com o aumento da idade. No grupo de 25 a 29 anos, o contingente de homens e de mulheres é similar, correspondendo, cada um, a 4,0% da população total.

Gráfico 1.

Ainda que o Brasil apresente elevado percentual de jovens, sua população tem envelhecido rapidamente. Essa tendência será um dos grandes desafios do país nos próximos anos, uma vez que seus resultados serão a diminuição acentuada da população economicamente ativa e o aumento da população dependente.

A razão de dependência é uma das formas de medir a relação entre pessoas ativas (entre 15 e 64 anos) e inativas (crianças e adolescentes até 14 anos e idosos com 65 anos ou mais).

De acordo com dados levantados pelo estudo, em 2021, a cada 100 pessoas com maior potencial para exercer atividades produtivas, 44,6 pessoas eram dependentes economicamente (razão de dependência de 44,6). Já a projeção para 2050 é que essa razão aumente para 75.

Certo. Mas qual a relação disso tudo com a questão do emprego e da renda?

Para que os níveis de vida e bem-estar atuais do país – já insuficientes para parcela importante da população – sejam mantidos no ano de 2060 sem expansão da idade da vida laboral, seria necessário ampliar em 16% a produtividade dos trabalhadores brasileiros. Avanço que não é observado nas últimas décadas e que nos provoca a pensar em estratégias relevantes desde já, para tornar trabalhadores mais produtivos e qualificados.

Raça e geolocalização

#PraTodosVerem: fotografia colorida de dois jovens negros em situação de aparente vulnerabilidade social. O menino, mais novo, veste uma regata preta. Atrás dela, uma menina, com uma blusa estampada.

A distribuição por raças na população brasileira foi estimada em 47% de pessoas pardas, 43% de brancas e 9,1% de pessoas pretas (IBGE, 2022).

A população jovem segue números similares, com 51% de pardos, 38% de brancos e 10% de pretos.

Se considerada a população total, é perceptível que a distribuição por raça não é uniforme no território brasileiro, já que há três regiões com ampla maioria de pessoas autodeclaradas pretas ou pardas: Norte (80%), seguida pelo Nordeste (75,3%) e Centro-Oeste (65,3%). A região Sudeste apresenta 50,7% de pessoas brancas e 49,3% de pardas ou pretas. Por fim, a região Sul apresenta a maior concentração de pessoas brancas (75,1%).

O gráfico abaixo mostra a representatividade da população jovem nas diferentes unidades federativas do nosso país. As regiões Norte e Nordeste apresentam os maiores percentuais do grupo. Já as regiões Sul e Sudeste concentram as taxas que ficam abaixo da média nacional, dado que são os locais onde a transição demográfica começou mais cedo, com taxas de mortalidade e de natalidade caindo previamente às das demais regiões.

Gráfico 2.

Aproximadamente 15% dos jovens entre 15 e 29 anos residem em áreas rurais, frente a 85% nas áreas urbanas.

A análise comparativa dos dados entre os dois últimos censos (2000 e 2010) mostra que 2 milhões de pessoas migraram de áreas rurais para urbanas, a maior parte constituída pelo público jovem que migra, na maioria dos casos, em busca de formação, trabalho ou para acompanhar a família.

Condições socioeconômicas

As investigações do levantamento dão conta de que a presença de jovens tem diminuído nas classes altas, prevalecendo nas classes mais baixas. “O buraco ficou mais embaixo” ao longo dos últimos dois anos.

O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar (PENSSAN, 2022) traz dados alarmantes sobre a piora nas condições de vida da população brasileira entre 2021 e 2022, devido três fatores preponderantes:

a) Crise econômica persistente;

b) Crise sanitária decorrente da pandemia de covid-19;

c) Desestruturação de políticas públicas.

Os principais resultados revelam que apenas 41,3% dos domicílios estavam em situação de segurança alimentar (SA) no período, enquanto em 28% dos lares havia incerteza quanto ao acesso aos alimentos.

Para as juventudes, isso representa domicílios com crianças e adolescentes com mais chances de ter seus moradores em situação de insegurança alimentar (IA).

A tabela abaixo mostra que tanto a IA moderada quanto a IA grave apresentam gradientes crescentes de severidade conforme o aumento do número de moradores com idade até 18 anos:

Gráfico 3.

Nesta primeira entrega de dados do estudo, já conseguimos coletar algumas pistas referentes a alguns dos desafios para a inclusão produtiva das juventudes no Brasil: o país possui um alto contingente populacional do grupo, que no futuro precisará ter sua produtividade ampliada para dar conta do equilíbrio com a população inativa.

Ao mesmo tempo, boa parte desses jovens está concentrada nas faixas de renda mais baixas, vivendo em condições de precariedade, inclusive alimentar.

No próximo post da série O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras, vamos explorar o levantamento no eixo das trajetórias juvenis na inserção laboral e outros tópicos, mas você já pode conferir o estudo na íntegra aqui.

Fonte: Dialogando - O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras – Parte 1 Dialogando

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