Tecnologia e diversidade: as pessoas pretas na evolução digital​

10 de novembro de 2023

O debate sobre a falta de diversidade no setor de tecnologia, em particular nas grandes empresas, e a produção de ofertas tecnológicas por equipes mais diversas têm ganhado escala nas redes. Mas o setor precisa avançar para além do ativismo superficial e agir, de verdade, na luta antirracista.

Esse enfrentamento é, infelizmente, global. Há uma lacuna racial e geográfica enorme nas carreiras e profissões em tech no mundo todo e, ainda que o Brasil conte com a maioria da população autodeclarada negra (56%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE), o país acompanha essa tendência perversa.

As pessoas pretas são minoria também nesse mercado, mas elas existem. Só que quando conseguem superar o entrave do acesso, ganham menos de 70% da renda média de uma pessoa branca com a mesma qualificação e dificilmente chegam a cargos de liderança e gerência.

O número é do estudo desenvolvido pelo instituto Potências Negras, que discute formas de enegrecer a tecnologia no país.

O levantamento foi realizado com 1.427 profissionais da área: 69% autodeclarados pretos e 21%, pardos. A maioria dos respondentes pertence às classes C, D e E, tem entre 26 e 45 anos e apresenta ensino superior ou pós-graduação – dados que deixam visíveis os desafios do grupo, o mais atingido pelo desemprego em 2021.

Para que você entenda a importância da inclusão no setor, precisamos, antes de tudo, falar sobre…

Diversidade e mudança: os algoritmos na perpetuação do racismo

#PraTodosVerem: retrato de uma mulher negra à frente de um parede onde estão projetados códigos que remetem aos algorítmos.

Muita gente já ouviu falar em algoritmos, mas não sabe exatamente quais seus impactos diretos na discriminação. Vamos entendê-los.

Os algoritmos são o conjunto de etapas que um software precisa para chegar a algum resultado. Uma sequência de códigos expressa em uma linguagem matemática, desenvolvida para determinar o que um computador deve fazer. Por isso eles estão cada vez mais presentes no nosso dia a dia – nas redes sociais, plataformas de pesquisa etc.

O problema é que esses dados, praticamente invisíveis para nós, trazem, muitas vezes, mensagens racistas.

“Como assim?”, você deve estar se perguntando.

Entenda!

Em 2020, o Twitter foi acusado de utilizar um algoritmo racista. A polêmica começou quando usuários da rede identificaram que o algoritmo parecia favorecer pessoas brancas. Eles, então, passaram a fazer testes: sempre que colocavam imagens de homens brancos e negros, a imagem do homem branco permanecia em destaque.

Um dos testes montou uma imagem com o rosto de 11 homens negros e um branco. Resultado: mesmo assim o corte focou no único homem branco.

O caso não é só mais um, isolado. Um usuário do Google já tinha descoberto que ao pesquisar no Google Fotos a palavra “gorila”, apareciam imagens diversas de pessoas negras.

As inovações, aliás, trazem experiências frustrantes para homens e mulheres negras na enorme maioria de aplicativos que, teoricamente, teriam a função de embelezar. Ao inserirem suas fotos nessas plataformas, ainda é muito comum terem o tom de pele clareado, traços alterados e narizes afinados.

E aí, ficam as perguntas: seus programadores foram homens ou mulheres? Negros ou brancos? Eles têm letramento racial?

Por que a Inteligência Artificial dessas plataformas transmite esse tipo de mensagem?

Justamente porque a enorme maioria das pessoas por trás da criação dos algoritmos não é negra, fator que influencia todo o funcionamento do sistema.

Ao serem construídos em cima de um banco de dados que reflete uma sociedade injusta, os algoritmos também acabam tomando decisões antiéticas.

E os algoritmos serão capazes de funcionar de forma isenta no futuro?

Vai depender das oportunidades que a sociedade, empresas e o poder público oferecerem às populações pretas, cenário em que será necessário educar para as carreiras digitais e empregar com diversidade para que novos tipos de algoritmos com conjuntos de dados diferentes sejam sugeridos por consultores pretos. Do contrário, esses sistemas continuarão perpetuando injustiças de um país com histórico de 388 anos de escravidão contra 132 de abolição.

Como a inclusão e a liderança negra podem impulsionar a evolução da área​ (e do planeta!)

#PraTodosVerem: fotografia colorida de uma mulher negra à frente de um computador, dentro de um data center.

Para muito além do continuísmo das práticas ocultas por trás dos algoritmos criados pelas pessoas brancas, a presença de profissionais negros na tecnologia é essencial para combater o racismo sistêmico, promover a equidade, a inclusão e garantir a chegada de inovações cada vez melhores, por motivos diversos:

Diversidade de perspectivas: pessoas de diferentes origens étnicas e culturais trazem perspectivas únicas para a resolução de problemas. Diversidade que pode colaborar para o desenvolvimento de produtos e serviços mais inclusivos e relevantes para uma gama muito maior de usuários.

Inspiração e mentoria: a presença de profissionais negros na tecnologia passa a ser uma fonte de inspiração para jovens do grupo que desejam seguir carreiras na área. Eles podem orientar, ensinar e encorajar aqueles que estão começando suas jornadas profissionais com base em um repertório de vida que apenas as pessoas pretas conhecem.

Acesso a oportunidades: a força de trabalho diversificada pode ajudar a reduzir disparidades no acesso a oportunidades de emprego e promoção, proporcionando às comunidades negras uma chance justa de prosperar e avançar em suas carreiras.

Inovação e criatividade: a multiplicidade de pensamento e experiências é a única capaz de impulsionar a inovação ao trazer diferentes abordagens para o desenvolvimento de novas tecnologias.

Democratização: a tecnologia desempenha um papel crucial em quase todos os aspectos da sociedade moderna. Portanto é vital que a indústria tech possa refletir a diversidade da população que consome seus produtos e serviços.

Vieses inconscientes?

#PraTodosVerem: fotografia colorida de um jovem negra à frente de um fundo rosa. Sua expressão é pensativa.

Alguns especialistas avaliam que o apagamento das pessoas pretas no setor e o racismo verificado nas folhas de pagamento das companhias de tecnologia estão diretamente relacionados aos vieses inconscientes de empregadores – criou-se um mito de que a área é altamente intelectualizada e que pessoas intelectualizadas não são negras, o que dificulta essa quebra de paradigma.

Pense com a gente. Se a sociedade impôs condições absolutamente piores de ensino e acesso à educação para as comunidades pretas, claro que os enfrentamentos dessas populações serão maiores para que consigam emergir. Mas a enorme maioria de gestores e recrutadores não enxergam essa população nesse mercado, não valorizam e tampouco investem nos profissionais negros por conta de seus próprios vieses raciais.

Para que esse quadro dramático mude, o setor privado precisa se somar aos órgãos públicos rumo à transformação digital democrática.

Por aqui, contamos com a Fundação Telefônica Vivo à frente dessa causa, com programas de ensino gratuito de programação para escolas públicas do país, mas sabemos que somos uma ponta e que essa luta requer políticas públicas para que o processo se acelere.

Se você, assim como a gente, é apaixonado por tecnologia, conheça nossa parceria com a 42. Se você reconhece os benefícios da digitalização no aprendizado, saiba mais sobre a Aula Digital, programa que combina a formação técnico-pedagógica de educadores e gestores com conteúdos e recursos tecnológicos que permitem a personalização da aprendizagem em sala de aula.

Por aqui, sempre entregamos caminhos para a formação gratuita em tecnologia, que permanece carente de profissionais e está com milhares de oportunidades abertas.

#PraTodosVerem: fotografia colorida de uma mulher negra à frente de um computador, em um escritório. Ao seu redor, aparece um holograma com centenas de códigos.

Tome a frente das pautas sobre inclusão e o respeito às pessoas negras e permaneça com a gente porque, daqui até o final da Jornada Negras Raízes – celebrando diversidade e consciência, não vai faltar conteúdo em defesa dessa pauta crucial para os avanços dos direitos humanos!

Fonte: Dialogando - Tecnologia e diversidade: as pessoas pretas na evolução digital​ Dialogando

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