IA, tecnologias emergentes e equidade racial em 18 eixos

22 de novembro de 2023

Desde que o Dialogando deu a largada na Jornada Negras Raízes: celebrando diversidade e consciência, falamos da importância das pessoas pretas no desenvolvimento de tecnologias, especialmente aquelas com a aplicação de IA (Inteligência Artificial). Esse é um caminho necessário na luta contra o racismo algorítmico e a sonhada equidade racial – luta bicentenária das populações negras, que, desde 7 de setembro de 1822, após o rompimento do Brasil com Portugal, vêm pedindo respeito e oportunidades em todos os setores sociais.

Também mostramos como ferramentas com o uso de IA podem aprofundar ainda mais o racismo estrutural no país. Não conferiu?

Clique aqui e entenda os perigos do uso do reconhecimento facial na segurança pública para o grupo e, de cara, saiba mais sobre o perverso racismo algorítmico.

O conteúdo preparado para você hoje pretende trazer, com base em pesquisas, quais as relações entre tecnologias digitais, raça e preconceito racial do ponto de vista de especialistas negras e negros – pessoas que pensam e agem para estabelecer justiça em frentes diversas: sociedade civil organizada, academia e universidades, mídia e imprensa, setor privado e setor governamental.

Falamos do estudo Prioridades Antirracistas sobre Tecnologia e Sociedade, levantamento que aplicou a metodologia bola de neve (com direito à indicação de cinco respostas) para buscar as principais preocupações entre os 113 participantes, das cinco regiões do país.

Confira.

IA e equidade racial: prioridades antirracistas sobre tecnologia e sociedade

#PraTodosVerem: gráfico com a lista de preocupações em relação à IA apontadas pelos entrevistados no estudo Prioridades Antirracistas sobre Tecnologia e Sociedade. Você confere cada uma delas, na ordem de menções, abaixo.

Agora, vamos entender cada um dos eixos apontados:

1. Epistemicídio e apagamento

No topo da lista das prioridades está o epistemicídio, que se refere à morte da construção do conhecimento, fenômeno comum quando uma cultura se sobrepõe a outra, criando formas de dominação política e ideológica.

Nesse caso, a pesquisa destaca o apagamento das contribuições negras, afrocentradas e antirracistas sobre tecnologia e aponta para o lado não neutro das inovações – fator que penaliza a justiça racial e a superação dos impactos de séculos de racismo.

2. Falta de diversidade e inclusão

A presença absolutamente desproporcional das pessoas pretas nas fileiras de produção, desenvolvimento, ideação, análise e controle das tecnologias aparece na sequência.

Para os especialistas entrevistados, a falta de diversidade e inclusão nos campos tecnológicos prejudica a população brasileira no todo, de forma individual e coletiva.

3. Inteligência Artificial e Algoritmização

No eixo da Inteligência Artificial, eis que aparece, em terceiro lugar, o impacto das tecnologias digitais emergentes que utilizam métodos algorítmicos e outros tipos de automatização para tomadas de decisão baseadas em dados de larga escala.

A tendência aflige os respondentes, já que há inúmeras provas de que existem nesses processos novas formas de manutenção e intensificação do racismo estrutural.

4. Vigilância e violência estatal

Aqui entra a popularização do uso de inovações cheias de vieses racistas como recursos muito utilizados na segurança pública.

Nesse cenário, tais ferramentas acabam perpetuando a violência estatal como forma de controle das populações pobres e racializadas. Por isso o reconhecimento facial, entre outras tecnologias biométricas, preocupa especialistas – suas utilizações na segurança pública e privada vêm contribuindo para o avanço da seletividade penal e o encarceramento injusto de pessoas negras inocentes.

5. Opressões interseccionais

Parte das respostas apontou de forma explícita o conceito e a teoria da interseccionalidade como central para a luta por igualdade e justiça racial.

O olhar interseccional sobre as opressões também leva em conta, de maneira indissociável, fatores como gênero, classe, sexualidades, capacitismo e outras variáveis políticas de identidade e corpo.

6. Empregabilidade e formação técnica

Na série de desafios, aparecem, na 6ª posição, a necessidade de formação específica e acessível para homens e mulheres negras para a ocupação de vagas no mercado de trabalho, em especial as oportunidades ligadas à programação e o desenvolvimento de softwares.

7. Privacidade de dados e cibersegurança

Aponta para as questões relacionadas ao compartilhamento (consentido ou não) de dados pessoais e a necessidade de promoção da segurança digital de cidadãos.

8. Desigualdade econômica

Na avaliação dos entrevistados, as disparidades raciais e econômicas na estratificação social – conjunto das inúmeras desigualdades que podem atingir as pessoas que vivem em sociedade – impedem o uso pleno das tecnologias digitais e habilitam novos tipos de exploração com impactos sempre maiores para as pessoas pretas.

9. Falta de espaços

Eles apontam a necessidade urgente da criação de espaços seguros, criativos e diversos para que as populações negras possam desenvolver potencialidades e produções alternativas fora das restrições hegemônicas.

10. Hiato digital: acesso e infraestrutura

Nesse eixo, os especialistas chamam a atenção para o permanente hiato digital sobre o acesso à internet e dispositivos de comunicação e informação, problema aprofundado nos anos da pandemia com a piora do quadro econômico do país.

11. Governança da internet e plataformização

Temas como governança da internet, representação negra em espaços multissetoriais de decisão e o perigo que a plataformização de serviços públicos representa, como o acirramento da desigualdade, aparecem na lista das principais preocupações.

Consideração legítima, já que a plataformização – fenômeno acelerado de forma emergencial e desorganizada com a pandemia – coloca uma série de barreiras às populações menos favorecidas quando condiciona o acesso às informações, aos direitos e benefícios sociais às plataformas digitais. 

12. Discurso de ódio

O uso de ambientes online, em especial mídias sociais, para circulação de discurso de ódio e mensagens racistas contra pessoas negras; e a leniência percebida nas reações das plataformas tiveram menções significativas entre os desafios tecnológicos que separam, ainda mais, pessoas brancas de negras no país.

13. Hiato digital: habilidades

Comentários sobre o papel do hiato digital de segundo nível, ligado a habilidades para uso pleno e informado da internet e dispositivos digitais, também foram alvo de menções. O que reforça a necessidade de levarmos educação digital para a utilização dos recursos tecnológicos para as comunidades mais desfavorecidas com urgência.

14. Representação cultural

Entre as preocupações, está o reconhecimento da importância de representações positivas sobre negritude e tecnologia na mídia e na cultura de forma geral.

15. Legislação

Parte dos especialistas apontou como prioridade o trabalho para que a legislação ligada à regulamentação da internet e dos dados (como o Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados), além dos itens relativos ao combate ao racismo (como as Leis 10.639 e 11.645 sobre ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena), sejam cumpridas com efetividade.

16. Conexões com África e diásporas

Os entrevistados também consideram as barreiras para a aproximação intelectual, política, econômica e cultural com iniciativas e grupos provenientes de países africanos, da afrodiáspora ou de outras regiões para além dos EUA e da Europa Ocidental.

17. Territórios de resistência

Questões ligadas a territórios de resistência negra, como quilombos, favelas e periferias, foram mencionadas com frequência de forma articulada e conjunta.

18. Falta de transparência

Para os especialistas, outro fator a se considerar é a falta de informações e caminhos para promover a transparência dos setores privado e público na implementação, ideação ou gestão de tecnologias digitais.

#PraTodosVerem: fotografia do rosto de uma mulher negra, olhando para a câmera. Seu cabelo é trançado e ela usa piercings no nariz.

Agora é sua vez! Se a gente usasse o mesmo método com você, e te pedisse para adicionar 5 às 18 preocupações levantadas pelos entrevistados do estudo, quais você mencionaria?

Deixe nos comentários!

Fonte: Dialogando - IA, tecnologias emergentes e equidade racial em 18 eixos Dialogando

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