Saúde mental de influenciadores digitais: alertas e a adoção de novas condutas

9 de janeiro de 2024

Fama é um negócio que parece que vicia, não é mesmo? Muita gente quer ter e quem tem, não quer viver sem ela. Por isso cada vez mais o mundo das redes chama a atenção para a saúde mental dos influenciadores digitais.

A busca infinita por engajamento, a necessidade de se adaptar aos algoritmos que mudam constantemente, ter que lidar com a cobrança de seguidores e os ataques de haters exigem disposição e, muitas vezes, doses altíssimas de coragem.

Mesmo assim, o marketing de influência já se tornou o emprego dos sonhos de muitas pessoas, pelo menos entre os jovens – constatou o levantamento da INFLR, startup que conecta marcas a personalidades populares nas redes.

De acordo com o estudo, 75% deles se interessam em ingressar no disputado mundo da influência. Maioria (63%) motivada pelo retorno financeiro. Mas o que muita gente não sabe é que por trás dos bastidores, mostrar o dia a dia, criar tendências e motivar decisões de compras dá um trabalho danado e é uma baita responsabilidade.

A constante pressão por levar carisma para a audiência e resultados para as marcas, gera, em alguns, uma ansiedade constante. Nesse cenário, é preciso ter o psicológico preparado para os altos níveis de exposição, mas também para a eventual queda abrupta da popularidade.

Perceba! Se até artistas consagrados caem tantas vezes no esquecimento, não dá para contar com a fama eterna no universo instagrammer ou tiktoker. Daí a necessidade de conhecer os próprios limites.

Contar com uma rede de apoio pode ser essencial para mudar o rumo de histórias como a de PC Siqueira – um dos pioneiros da produção de conteúdo do país. Segundo pessoas próximas ao influencer, o rapaz, de 37 anos, tirou a própria vida após um quadro de depressão desenvolvido provavelmente por não saber lidar com a queda de popularidade.

Fotografia colorida de PC Siqueira. Reprodução – Instagram.

Infelizmente, o caso do youtuber não é isolado. O influenciador e humorista baiano Rodrigo Amendoim também não suportou a pressão. Sucumbiu aos ataques de ódio em outubro do ano passado, deixando um filho. O jovem, de apenas 24 anos, era diariamente alvejado, principalmente por ofensas de cunho racista.

Fotografia colorida de Rodrigo Amendoim. Reprodução – Instagram.

Se você está disposto a viver esse universo, não desanime! Sabendo dosar trabalho, vida pessoal e emocional, dá para surfar nas benesses das duas pontas: dinheiro e fama (nem sempre para sempre!).

Mas entenda quais podem ser os principais riscos do descuido da saúde mental dos influenciadores digitais.

Saúde mental de influenciadores digitais: onde o calo mais aperta?

Likes, likes, likes! É sobre a busca infindável de aprovação e o aumento constante da base de seguidores – a qualquer preço.

Elencamos os principais pontos de atenção da carreira que nem sempre é feita só de glamour. Confira.

Privacidade de menos

Já falamos por aqui que privacidade online é parte de um debate sobre códigos, mas também sobre a individualidade de cada pessoa.

Mostrar o tempo todo o que está fazendo, do momento que acorda até o horário de dormir, não é nada saudável. Afeta a privacidade e passa a gerar expectativas para o público e para os influenciadores, que muitas vezes se sentem na obrigação de revelar detalhes da vida pessoal para manter a base de fãs sempre aquecida.

Ainda que sejam consideradas pessoas públicas, os criadores de conteúdo não devem compartilhar tudo, até porque tudo é muita coisa e podem acabar entrando em uma rotina de exaustão apenas para satisfazer a audiência.

Pressão de mais

A obsessão em permanecer relevante e criar conteúdos criativos é um problema presente na jornada de 81% dos influenciadores digitais, segundo dados da pesquisa da Criadores iD, empresa que agencia personalidades de destaque nas redes como Casimiro e Linn da Quebrada.

O público, cada vez mais exigente, está sempre pronto para criticar uma foto ou um vídeo de qualidade inferior ou pouco relevante e o pior é que os algoritmos não dão folga – se não postar com periodicidade, as próprias plataformas entregam menos o conteúdo para a audiência.

Tudo isso faz com que muitos criadores entrem em uma engrenagem de autocobrança perigosa que pode levá-los, com facilidade, à exaustão mental.

Busca infinita por engajamento

Curtidas, comentários e reações são exemplos de engajamento – uma das métricas mais importantes e avaliadas pelas marcas na hora de decidirem fechar parcerias com influencers.

A boa performance no engajamento quase sempre é um indicador de que o público é fiel à personalidade e dá importância ao que ela produz e indica.

O problema é que as plataformas impõem cada vez mais desafios para que os conteúdos sejam entregues em larga escala e a concorrência não é pequena: de acordo com a Nielsen, o Brasil já superou a marca de 500 milhões dos chamados nanoinfluenciadores – criadores com ao menos 10 mil seguidores.

Nesse cenário, manter a métrica nas alturas requer criatividade, disposição e muito trabalho, o que gera ansiedade na busca sem fim pela conquista de números relevantes.

Nessa esteira, ainda há um outro fator….

A adaptação aos algoritmos que mudam constantemente

No todo, os algoritmos das redes sociais são como robôs que organizam as publicações que aparecem no feed a partir do grau de relevância de um conteúdo e a partir daí, identificam quais posts serão entregues para mais ou menos pessoas.

Só que esses algoritmos mudam com frequência – às vezes consideram mais relevantes fotos, outras vezes vídeos, cenário em que os influenciadores acabam se tornando reféns desse mecanismo e inicia-se um ciclo perigoso: buscam se encaixar nessas mudanças para manter um bom engajamento, trabalho que se torna estressante e nem sempre traz os resultados esperados.

Pressão do público

Até quando os pedidos não são das lives NPC do TikTok, os influenciadores costumam se sentir pressionados pelas cobranças do próprio público.

A produção de stories, fotos e vídeos muitas vezes vira exigência dos fãs e pode até parecer inofensiva, mas gera o sentimento de que o profissional deve estar sempre produzindo e planejando algo para a sua audiência.

Ok. Ele, de fato, deve. Mas essas exigências podem ultrapassar o limite do que é saudável, especialmente quando os seguidores acreditam que têm a liberdade para falar livremente sobre seus corpos, seus hábitos e comportamentos de maneira hostil e desrespeitosa.

Pela saúde mental do influenciador digital: pausa para si mesmo

O humorista Esse Menino (Rafael Chalub), influencer que ganhou fama após viralizar em um vídeo em que falava da Pfizer, em 2021, deu uma pausa das redes por um tempo alegando cansaço por muito trabalho e distúrbios emocionais.

“As pessoas falaram muito comigo sobre o tanto que eu tirei de letra, sobre como que parece que foi fácil para mim esses últimos seis meses. E não foi. A internet é malandra, faz parecer que foi tudo massa, muito fácil. Sofro com imensa ansiedade, tenho depressão diagnosticada há um tempo e também déficit de atenção. Em muitos casos, inclusive no meu, levam a várias questões de autocobrança e autoestima”, declarou.

Chalub não foi o único, e o descanso, mesmo que por curto prazo, vem se tornando tendência – perfis de contas milionárias, como Luva de Pedreiro, Kéfera Buchmann e Thaynara OG, já fizeram o mesmo.

Com 20 milhões de seguidores no Instagram, o famoso Luva (Iran Ferreira), apareceu na rede dizendo “vou ficar uns tempos aí… Tá ligado? Sem postar vídeo. Eu vou esfriar a cabeça, pô! Ficam enchendo o saco”.

Saúde mental de influenciadores digitais: o que dizem os especialistas

Na avaliação de especialistas, o ato de “ex-anônimos” sentirem que precisam estar felizes, disponíveis e esbeltos o tempo todo não é uma faceta facilmente absorvida por todas as pessoas.

Para a psicóloga Simone de Paula, para alguém que que não tem estrutura psicológica, toda essa pressão pode ser uma ponte perigosa para o desenvolvimento de problemas psicológicos diversos, já revelados em pesquisas – 22,2% dos influenciadores sofrem de transtorno de ansiedade; 6,4% lutam contra a depressão e 2,5% sofrem de TDAH.

Mas a lista não para por aí: além do mal do século, a ansiedade, há casos de pessoas que desenvolveram transtornos alimentares e até a síndrome de burnout.

Nesse cenário, Simone avalia que é natural as pessoas sentirem dificuldade de encarar as mudanças, principalmente quando elas são abruptas, mas alerta: “O ideal nesses casos, é dedicar-se a cuidar da saúde mental para lidar com o novo estilo de vida. Buscar ajuda profissional, contar com a rede de apoio e ter momentos de descanso e lazer são formas de autocuidado que poderão auxiliar no processo do anonimato para a fama”.

E o mesmo vale se esse processo for, infelizmente, inverso: da fama para o anonimato. Um psicólogo poderá auxiliar o indivíduo a adquirir autoconhecimento, colaborando para que consiga lidar melhor com o processo de grandes mudanças.

Não descuide. Procure ajuda!

Ainda que seja tabu, é necessário falar. Não negligencie sua saúde emocional, de maneira alguma, e procure por ajuda antes que casos como os de PC Siqueira e Rodrigo Amendoim se repitam.

Ao primeiro sinal de qualquer pensamento suicida, procure ajuda especializada em entidades sérias como o CVV (Centro de Valorização da Vida). O órgão funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, por e-mail, chat ou pessoalmente. Confira nesta lista o posto de atendimento mais próximo de você.

#PraTodosVerem: fotografia colorida de um homem sentado, acenando para uma câmera de celular presa a um suporte, sobre uma mesa de escritório.

Agora que você já está alerta para os cuidados dessa carreira que deve continuar como grande tendência, saiba como ser um influencer de sucesso (mas com responsabilidade!) neste post!

Até a próxima!

Fonte: Dialogando - Saúde mental de influenciadores digitais: alertas e a adoção de novas condutas Dialogando

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