Compro, logo penso

21 de dezembro de 2016

O fim da Segunda Guerra Mundial deu início a uma era de consumo desenfreado que parecia não ter limites. A onda começou nos Estados Unidos e rapidamente se espalhou, em maior ou menor grau, por vários países. Comprar tornou-se a palavra de ordem na busca por prazer, autorrealização, status e mesmo felicidade. Esse estilo de vida, porém, pode estar com os dias contados. É cada vez maior o número de pessoas engajadas com o consumo consciente – mais do que uma tendência, um movimento de pessoas preocupadas com as implicações ambientais, sociais e até psicológicas do aparentemente prosaico ato de dar dinheiro em troca de algum produto.

Trocando em miúdos, isso significa que, antes de passar o cartão na maquininha, devemos nos perguntar se realmente precisamos daquele produto ou se vai ser pouco usado e logo virará lixo. Sua compra é puramente um impulso consumista? E se, no fim das contas, fizermos a opção de comprar, é porque refletimos antes sobre a postura ética e socialmente responsável da empresa fabricante. É um cosmético testado em animais? Uma roupa feita com trabalho escravo ou infantil? O processo de produção polui o meio ambiente? É um alimento saudável? Esses são apenas alguns questionamentos que começam a ser incorporados por muitas pessoas. A tecnologia – frequentemente vista como vilã por causa da dificuldade do descarte de produtos eletrônicos – ajuda o consumo consciente, e não é de hoje.

Em primeiro lugar, a digitalização reduziu drasticamente o uso de matérias-primas como papel e plástico. Fotos, enciclopédias, música, filmes e livros não precisam mais de uma mídia física para existir. As pessoas imprimem fotos cada vez menos e selecionam bem o que vão colocar no papel. Antes da câmera digital, todas eram ampliadas, inclusive as péssimas. Puro desperdício. Filmes e música não necessitam mais de caixas de plástico e de um CD ou DVD. O Google é a chave para o conhecimento na palma da mão. E tudo isso não precisa de caminhões para transportar os produtos, queimando combustíveis fósseis e poluindo o ar.

Em segundo lugar, a tecnologia vem fundindo aparelhos em um único só, poupando o meio ambiente de uma forma inimaginável. Há poucos anos, já neste século 21, as pessoas tinham celular, relógio de pulso, rádio-relógio, filmadora, câmera fotográfica, GPS, agenda, aparelhos de som e videogames, entre outras pequenas coisas nas quais nem paramos para pensar, como uma calculadora. Dá para imaginar o quanto de plástico, vidro, papelão e combustível não se economiza com a tecnologia?

Mas não são só os aparelhos que ajudam o consumo consciente, mesmo que as pessoas não se deem conta disso. A internet permite a criação de serviços impensáveis sem ela. Sites como o Mercado Livre, por exemplo, impedem que um colchão de solteiro em ótimo estado vá para o lixo porque alguém se casou. Ele vai ser muito útil para outra pessoa, evitando o desperdício. Aplicativos poupam também a queima de combustíveis fósseis com o compartilhamento de carros com caronas, seja para o dia a dia ou com viagens.

E para que, por exemplo, ter uma furadeira em casa para fazer meia dúzia de furos na parede em um ano? Um simples aplicativo é capaz de providenciar uma furadeira para quem precisa em uma pequena comunidade virtual. Tudo isso, porém, depende de cada um. De nada adianta trocar de celular a cada modelo novo ou emprestar a furadeira se não houver consciência de que, mais do que nunca, precisamos aprender viver com menos. Muito menos.

E o consumo consciente deve crescer rapidamente, na medida em que os nativos digitais têm uma atitude muito diferente em relação ao consumo, segundo apontam várias pesquisas. Daqui a quatro anos, uma em cada três pessoas será dessa geração, o suficiente para mudar uma sociedade. E para eles, sucesso é ser feliz, e não trabalhar demais para ganhar mais dinheiro e consumir mais. É uma geração preocupada com a sustentabilidade e que espalha rapidamente pela internet se uma empresa ou produto desrespeita seus valores.

Segundo levantamento da indústria automobilística dos Estados Unidos, os nativos digitais do país não se importam mais nem com o carro, um dos símbolos do poder de consumo americano. O número de carteiras de motorista despencou 28% entre 1998 e 2008. Em 1985, antes da era digital, 38% dos automóveis foram vendidos a pessoas entre 21 e 34 anos de idade. Em 2010, a porcentagem caiu para 27%. Voltou a subir em 2014, mas os dados mostram que a indústria precisa se reinventar. “Essa geração é relutante em adquirir um automóvel ou produtos de luxo”, afirma um relatório do grupo financeiro internacional Goldman Sachs. “Em vez disso, eles buscam outros serviços da economia compartilhada. Afinal, quem precisa de carro quando existe o Uber?”

Fonte: Dialogando - Compro, logo penso Dialogando

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