Tecnologia e o fator humano

5 de outubro de 2017

Não faz muito tempo fui até uma cupcakeria gourmet que está fazendo sucesso na cidade em São Paulo. Chamamos o Uber, combinamos com alguns amigos por um aplicativo de mensagens, eles calcularam o tempo pelo mapa online e chegamos praticamente ao mesmo tempo. Me lembro de pensar que, apesar de não termos carros voadores e armas de raio laser, estamos no futuro. Somos, para usar uma frase que ouvi esses dias, o sonho mais louco dos nossos antepassados. Somos os homens do futuro.

Guerras e violência nunca mataram tão pouco, é o que dizem as estatísticas. A fome, outrora uma grande mazela mundial, está praticamente controlada. As pragas não são mais tão comuns, nem mesmo tão mortíferas. Temos em nossa mão um computador com capacidade maior do que os processadores que levaram o homem até a lua. A previsão é que em 2020 poderemos comprar, com mil dólares, um poder computacional equivalente a um cérebro humano. Em 2050, esta mesma previsão diz que mil dólares comprarão poder computacional equivalente a todos os cérebros humanos juntos.

E aí está nosso medo: em pouco mais de trinta anos as máquinas devem substituir a maioria dos postos de trabalho automatizáveis. Aconteceu no século 18 e 19 com a Revolução Industrial mas agora a coisa deve se acelerar. Robôs e algoritmos já organizam nossa vida, são melhores vendedores que nós, são melhores de navegação no trânsito, já são melhores motoristas. Mas em que os robôs não são melhores que os humanos?

Pelo menos por enquanto, continuamos melhores naquilo que sempre fomos melhores: criar. Por mais sofisticados que os robôs sejam para solucionar problemas, automatizar processos ou ganharem jogos de xadrez, dificilmente viveremos para ver um robô criando outro robô sem ajuda humana. Somos, portanto, humanos naquilo que nos diferencia: criatividade.

Prova disso é a cupcakeria gourmet que conheci com meus amigos. E também aquele novo restaurante que você adora. E aquela marca de roupas fabulosa do bairro mais moderno da sua cidade. Estas são todas sofisticações do dia a dia que só foram possíveis porque a automatização do trabalho nos deram este luxo. A maioria das pessoas não precisa mais se preocupar com o básico – onde morar, o que comer, como se proteger dos perigos – e, assim, pode criar algumas sofisticações. Pode parecer fútil mas acredite: isso faz bem para todos nós.

Os trabalhos braçais são também aqueles que nos fazem odiar nossos empregos. Pense em preencher tabelas de Excel pelos próximos 30 anos. Ou passar compras em uma máquina. Ou ainda, viajar todos os dias durante dez horas para levar cargas de um lado para o outro. São trabalhos que não envolvem criatividade e, muitas vezes, não deixam as pessoas muito motivadas para passarem o resto da vida fazendo aquilo. As empresas de tecnologia estão focadas em automatizar esses empregos, abrindo espaço para novas profissões.

 

As profissões do futuro

Lembre-se: faz apenas dez anos que Steve Jobs lançou o celular que mudou a vida de todo mundo. O iPhone e os aplicativos fazem parte da nossa vida de uma forma tão natural que parecem que sempre estiveram aqui. Não é verdade: há dez anos não existia aplicativo de mensagens, nem taxi por celular, nem mapas online. Hádia dez anos não existia uma profissão que hoje existe: youtuber. Pergunte a uma criança de dez anos e verá que quase todas sonham em ser youtuber hoje em dia. Uma profissão que não existia e que agora é o sonho da molecada.

E assim será com outras profissões: é muito difícil prever exatamente quais serão elas, mas certamente irão existir. Na Revolução Industrial algumas pessoas queriam quebrar todas as máquinas porque elas roubavam postos de emprego. Isso significa que, apesar do medo das máquinas e da automação, veremos um futuro mais rico e confortável, com profissões como piloto de drones, segurança de carros autônomos, especialista em transmissão esportiva para óculos 360º.

O mais interessante é que, quanto mais tecnologia existe nas nossas vidas, mais queremos também uma sensação de conforto e nostalgia. A cupcakeria gourmet é a prova disso: aquele bolinho gostoso que nossa avó fazia, geralmente vendido em casinhas coloridas e servido por simpáticos jovens barbudos que lembram fotos dos anos 50. Quanto mais tecnologia aparece na nossa vida, mais queremos livros, discos de vinil, comida orgânica e parto humanizado. Uma espécie conforto nostálgico para nos lembrar que somos humanos.

O afeto e as relações humanas são diferenciais que ainda temos. Claro que, com o passar dos anos, a tecnologia deve dominar nossas casas, trabalho, lazer. Mas isso não significa que não podemos usar a tecnologia nos melhores momentos, ao invés de passar o fim de semana inteiro olhando para a tela do celular. Esse equilíbrio é essencial pra nos ajudar a fazer aquilo que nos diferencia da máquina: ser criativo.

 

Os Cs da criatividade

O livro The Future of Decision Making: How Revolutionary Software Can Improve the Ability to Decide, de Roger Schank, traz os três Bs da criatividade: Bed, Bath and Bus. Eu traduzi para os três Cs da criatividade: Cama, Chuveiro e Carro. O significado é o mesmo: temos as melhores ideias quando estamos na cama, prestes a dormir; quando estamos tomando um banho quente e deixando os pensamentos criarem conexões; ou quando estamos viajando.

Você já deve ter viajado para um país novo e ser surpreendido com a quantidade de ideias e epifanias que teve. Essa capacidade de criar geralmente tem a ver com ter um olhar deslumbrado, turístico. Você está mais aberto para referências e, no momento que as mistura com suas próprias referências mais antigas, tem condições de criar uma terceira coisa, muitas vezes uma coisa nova. Isso é criatividade.

Da próxima vez que viajar por aí preste atenção ao seu redor. Quem sabe você não tem uma ideia para uma profissão do futuro. Seja ela um site de viagens, um programa que automatiza o upload das fotos para o Instagram ou ainda um aplicativo para receber cupcakes em casa. Viria a calhar para mim agora. 🙂

Fonte: Dialogando - Tecnologia e o fator humano Dialogando

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Comentário(s)

  • Adorei essa matéria, da até pra pensar em uma futura profissão e investir nos passos da era da robótica

    1. Com certeza, Roberto! Devemos procurar as melhores soluções e unir seres humanos e máquinas em prol de toda a sociedade!

  • Sim no futuro teremos que ser muito mais criativos . Para que as maquina nao ultrapasem o ser humano . Nos sempre teremos uma soluçao para tudo náo tenhaó medo tudo ficara melhor um a força que vem de Deus núnca sera substituido por nem uma maquina

    1. E o diálogo sempre será muito importante para que nós acompanhemos as mudanças do mundo, não é mesmo, Natalina?

    1. É isso aí, Marinalva! Vamos criar um futuro de harmonia e trabalho cooperativo entre os humanos e as máquinas. ?

  • Hola soy de argentina me gustó mucho este artículo. La comunicación también va cambiando ahora personas de cualquier parte del mundo pueden leer todo lo que está en Internet. Saludos.

  • A fome está controlada? Em que país você vive? Adorei a reportagem, faz pensar, mas hoje preciso viver e aproveitar esse tempinho ainda sem toda essa tecnologia. Me assusta um pouco!

  • Temos que desenvolver nossa mente e cérebro, que não usamos plenamente. Talvez no futuro a própria tecnologia nos ajude nisso ou com implantes para aumentar a capacidade do cérebro ou com maquinas que nos transmitam conhecimento , imagine se nosso cérebro pudesse fazer downloads, fazer uma faculdade em 5 minutos por exemplo.

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