Entre o passado e o futuro: as narrativas do afrofuturismo​

7 de novembro de 2023

Na Zâmbia, país que ocupa o eixo sul do continente africano, quando a gente leva uma boa notícia ou menciona algo de que os zambianos gostam, eles retribuem dançando, sabia? Se não sabia, a gente vai te mostrar o que a fusão única entre a alegria, o futuro e a criatividade ímpar dos povos da África tem a ver com o afrofuturismo!

Mas o que é afrofuturismo, afinal, e por que ele é necessário?

Quase sempre o termo afrofuturismo é associado a imagens que mesclam a ancestralidade africana e a tecnologia, algo semelhante àquela vista de Wakanda, do filme “Pantera Negra”, da Marvel.

Avaliação correta, só que em partes.

Falar sobre o movimento afrofuturista é mergulhar mais a fundo na vivência de pessoas negras, transpassando desde os campos da arte e da literatura até as ciências, a filosofia e a própria política, já que seus defensores são quase sempre ativistas fiéis contra o racismo estrutural e sua influência sobre a cultura contemporânea.

Nesse cenário, tome nota e não deixe de levar em consideração o contexto histórico envolvido.

Entenda!

Como o afrofuturismo surgiu?

#PraTodosVerem: ilustração abstrata desenvolvida em computador de uma cabeça de uma mulhetr coberta por centenas de pequenas esferas metálicas multicoloridas e brilhantes ao redor dos olhos, nariz, lábios e queixo.

Pare um pouquinho, feche os olhos e pense, por alguns segundos: o que é o futuro, no seu entendimento e quais as particularidades desse mundo que nem está ao nosso alcance ainda?

Robôs fazendo tudo aquilo que a gente adoraria não ter que fazer ou carros voando sobre nossas cabeças, além de viagens de foguete para outros planetas?

Pode ser que esse cenário “a la” família Jetsons, do estúdio Hanna Barbera, tenha passado por sua cabeça, mas de uma coisa pode ser certa: talvez faltou visualizar alguma pessoa preta nesse cenário futurístico.

E sabe por quê?

Porque existe uma construção social dentro dos nossos íntimos (e isso inclui o íntimo das pessoas negras também) em que as pessoas brancas são colocadas como universais em todos os aspectos, além de ainda existir uma realidade perversa: a de que pessoas negras são menos evoluídas.

E se parece exagero, basta você fazer o mesmo exercício. Pense agora no que vem à sua mente ao se lembrar do continente africano – não é raro que todos pensem nesse tipo de imagem aqui:

#PraTodosVerem: fotografia colorida do pé direito de um homem preto, com o tornozelo amarrado por uma corrente.

E é justamente para criticar esse contexto que artistas, pensadores, escritores, ilustradores e ativistas fizeram o afrofuturismo surgir – utilizando a ficção científica como reforço para valorizar a ancestralidade negra e fortalecer que a existência de homens e mulheres negras não se resume somente ao processo da pobreza e da escravização que lhes foram impostos para garantir benefícios e facilidades às populações brancas do planeta até hoje.

Quem esteve e está por trás do movimento afrofuturista?

#PraTodosVerem: fotografia colorida do escritor afrofuturista, Fábio Cabral. Ele usa óculos e veste colares que remetem à cultura de religiões de matriz africana. Reprodução: Instagram.

O pioneiro foi o músico norte-americano Sun Ra, que levantou o ideal político de que pessoas negras também dominam os campos das ideias e da tecnologia, além daqueles que já sabemos que dominam de trás para a frente: a cultura e as artes. 

O jazzista iniciou esse debate ainda nos anos 1960, quando o movimento não só não tinha a popularidade que tem hoje como também era pouco debatido e compreendido.

Quem se somou para quebrar preconceitos e fazer um alerta para a ignorância dos demais povos do ocidente quanto às pessoas negras foi a escritora Octavia Butler, também dos EUA.

Butler é conhecida como a “primeira dama da ficção científica”, considerada a maior referência da literatura do gênero com a publicação de dezenas de obras que, claro, sempre evidenciam o protagonismo negro. 

Se a gente pensar nos dias atuais, quem traz enorme contribuição para o afrofuturismo é, por exemplo, a cantora Beyoncé – ícone pop que não deixa de referenciar em seus álbuns, na sua música e em videoclipes narrativas afrocentradas.

Como assim?

Aquelas criadas por autores, compositores, cineastas, músicos e artistas plásticos negros, que colocam as pessoas pretas como protagonistas autônomas e que representam a subjetividade, a história, a cultura, a ancestralidade, o repertório e a perspectiva negro-africana de maneira positiva: resgatando o passado e os conhecimentos dos povos da diáspora a partir do seu ponto de vista, valorizando a estética, os traços e as cosmovisões que foram arrancadas da África e se espalharam por todo o mundo. 

Aliás, em seu disco “Black is King”, Beyoncé diz que “viver sem reflexo por muito tempo pode fazer com que as pessoas se questionem se elas realmente existem” – Bingo! E que baita crítica à falta de representatividade negra na mídia, nos espaços corporativos, nos restaurantes, em todas as partes comuns a pessoas brancas, não é mesmo? 

#PraTodosVerem: fotografia da cantora Beyoncé em ensaio fotográfico do álbum Renaissance. Foto: divulgação.

No Brasil, também há muitos nomes à frente desse eixo necessário na luta para que as populações pretas tenham de volta aquilo que as leis ditadas pelo homem branco quase destruiu: a autoestima das pessoas pretas.

O escritor Fábio Kabral é um deles, mas também temos Gaby Amarantos, cantora paraense em constante defesa por maior visibilidade de mulheres negras em todos os espaços da sociedade, com histórico de várias denúncias contra o racismo, além de:

. Kênia Freitas: doutora em comunicação, crítica e curadora de cinema, com pesquisa sobre Afrofuturismo e Cinema Negro.

. Djamila Ribeiro: embora mais conhecida por seu ativismo feminista e antirracista, também aborda temas do eixo em suas palestras, artigos e livros.

. Afronautas: coletivo artístico formado pelos angolanos Kiluanji Kia Henda, Antonio Ole e Nástio Mosquito que explora temas afrofuturistas em sua arte usando uma variedade de mídias, incluindo fotografia, vídeo e performance.

. Cidinha da Silva: escritora brasileira famosa pela obra “Racismo no Brasil e Afetos Correlatos”, que aborda questões de raça e identidade no Brasil, muitas vezes com uma perspectiva afrofuturista.

. Jaqueline Conceição: artista visual e pesquisadora que trabalha a segmentação utilizando diferentes formas de expressão artística para abordar questões de identidade, história e futuro.

. Makota Kizandembu: ativista e líder religiosa referência no campo da religiosidade de matriz africana com contribuições riquíssimas sobre espiritualidade e futuro na perspectiva afrofuturista.

#PraTodosVerem: fotografia em preto e branco de um homem negro com cabelo blackpower em acabamento moderno. Ele usa óculos escuros, terno, gravata e segura com a mão direita uma máquina fotográfica antiga.

Claro que as menções de personalidades acima são um pequeno recorte de quem é quem à frente do afrofuturismo, por isso agora é com você! Conte nos comentários quem você gostaria que a gente somasse a essa lista!

Fonte: Dialogando - Entre o passado e o futuro: as narrativas do afrofuturismo​ Dialogando

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