Tecnologia para inclusão social

12 de dezembro de 2016

Vamos supor (e pode bater na madeira três vezes, por via das dúvidas) que a prefeitura da sua cidade decidisse desligar toda a iluminação pública para economizar recursos em tempos de crise. Você voltaria a pé para casa à noite inseguro, sem enxergar um palmo adiante do seu nariz. Talvez nem encontrasse sua rua na escuridão total. Mas um gato passando a seu lado, caso pensasse e falasse, poderia dizer: “Bem que poderiam colocar luz no caminho dos coitados desses deficientes”. Pode parecer brincadeira, mas não é. Para o gato, você é um deficiente visual e físico, para dizer o mínimo. Precisa de escada para subir um muro e entrar em casa.

Pelo raciocínio do gato, caso ele raciocinasse, bem entendido, você e um cadeirante são igualmente deficientes, pois ambos precisam que o mundo se adapte e crie condições para vocês viverem. Mas por que há iluminação pública para um e faltam rampas para outro? “Uma pessoa que usa uma cadeira de rodas pode ter uma limitação de mobilidade específica, mas é a falta de uma rampa que causa a deficiência”, afirma Mike Kent, chefe do departamento de estudos da internet da Universidade Curtin, na Austrália. “A deficiência, no entanto, é ativada de uma forma diferente online.”

Segundo ele, a internet proporciona ambientes diferentes. “Para pessoas com várias limitações, o acesso à internet não é uma experiência incapacitante”, diz Kent. Segundo o professor, para essas pessoas a internet oferece muitas oportunidades para trabalho, lazer e negócios. “O acesso a tecnologias digitais de comunicação pode aumentar a sensação de independência e a autodeterminação de pessoas com deficiência, sem precisar sair de casa”, afirma ele, para quem as barreiras inerentes ao ambiente físico podem ser removidas”, reduzindo a discriminação.

Kent pondera que a informática continua sendo desenvolvida sem que se pense nas pessoas com deficiência e que os principais avanços não comtemplam essa parte da população mundial, que passa de 1 bilhão de pessoas – 80% deles em países em desenvolvimento, segundo a Organização Mundial da Saúde. Para ele, assim como nas ruas, a acessibilidade ao universo de recursos da internet depende muito da criação de recursos, aceitando que o problema não é do deficiente, mas de quem constrói o mundo. E isso é mais comum no ambiente virtual. É cada vez maior o número de programas e plataformas criativas que mudam a vida de portadores de deficiência.

Para deficientes visuais, por exemplo, há o Depict, que tem como base uma das mais maravilhosas características da internet: a colaboração e o crowdsourcing. Trata-se de uma extensão que se instala no computador. A ferramenta é para descrição de imagens. Se o usuário clica numa imagem, voluntários em qualquer lugar do mundo fazem a descrição, que é falada para a pessoa com deficiência visual. A mais votada vai ser usada para os próximos que passarem o mouse sobre aquela foto.

E há várias outras ferramentas, até made in Brazil. A Universidade de Brasília desenvolveu um software bilíngue para surdos – partindo do pressuposto que a língua de sinais e o português são, na prática, dois idiomas. Já a Universidade Federal do Rio de Janeiro criou o Motrix, um programa que permite que pessoas com deficiências motoras graves, como tetraplegia e distrofia muscular, possam ter acesso à internet para escrever, ler, se comunicar e até jogar. Ativado por comando de voz, o computador realiza a parte motora. Sem a internet, nada disso seria possível. E, assim como esses programas, não faltam diversos outros recursos apoiados na internet, gratuitos, capazes de construir rampas digitais.

Fonte: Dialogando - Tecnologia para inclusão social Dialogando

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