Em 2014, dos 1.225 pedidos de ajuda atendidos pela Safernet, 222 eram relacionados ao sexting – nome que, dentre muitas definições, inclui o envio de imagens de nudez e sexo sem consentimento. Em relação ao ano anterior, o compartilhamento de imagens íntimas cresceu 120%, principalmente entres os adolescentes. Mas por que essa prática vem crescendo, principalmente nessa faixa etária?
De acordo com a psicóloga Juliana Cunha, coordenadora do Helpline da Safernet, a resposta está na facilidade de acesso à tecnologia e no crescimento da internet móvel, como um todo. Os casos que envolvem o vazamento de imagens íntimas existem há bastante tempo, mas esses fatores ajudaram a criar oportunidades que antes não existiam.
A exposição do corpo na adolescência é um fator comum e está relacionado ao desenvolvimento sexual dessa fase. No ambiente online, essa máxima se espelha, com jovens conversando sobre sexualidade e consequentemente, exibindo, observando e buscando conteúdos sobre o próprio corpo ou o do outro.
As imagens tiradas podem ser uma forma de auto-avaliação também, já que segundo Juliana Cunha, “às vezes, essas fotos não são tiradas com o objetivo de ser compartilhadas”. Porém, se essa é uma forma natural de expressar o desenvolvimento da própria sexualidade, como lidar com o perigo dessas situações?
“É natural os pais terem dificuldades para entender a sexualidade dos filhos, principalmente dos mais novos. Para os adolescentes, a questão do compartilhamento de fotos é algo mais natural. Alertar para as consequências é importante, mas coibir é pouco funcional”, afirma Juliana.
A psicóloga diz que é preciso ter cautela, principalmente quando se fala de menores de idade. “Tem de haver um equilíbrio entre liberdade e proteção. É importante criar condições de proteção”, diz ela.
Cunha explica ainda que, o ideal seria que quando é tomada a decisão de tirar a foto, a consciência sobre as possíveis consequências acompanhasse o raciocínio. Essas imagens ao serem compartilhadas com alguém que não respeita a privacidade podem se espalhar e chegar a colegas, familiares e professores, o que causa o constrangimento.
Juliana afirma que existem casos de jovens expostos que acabam tendo que mudar de escola ou até mesmo de cidade. “Muitas vezes, o que acontece é um julgamento moral, em que se joga a culpa em cima da vítima, causando sofrimento em casa e na escola”, diz ela.
Vingança
Um dos problemas mais sérios relacionados ao sexting é o chamado revenge porn. O termo define situações em que o vazamento de fotos íntimas tem a intenção de fazer vingança, seja pela ruptura de relacionamentos ou brigas entre as partes envolvidas. “Existem também casos em que a pessoa de posse das fotos chantageia a vítima, pedindo mais imagens sob a ameaça de divulgar as que já tem”, explica Juliana.
Ela também esclarece que o sexting é hoje um problema de gênero. “Tanto meninos como meninas produzem e compartilham imagens íntimas, mas são as mulheres quem mais sofrem e pedem ajuda. Em 2014, 81% dos casos atendidos as vítimas eram mulheres, contra 16% de homens e 3% não identificados”.
No Brasil, a partir de setembro de 2018 virou crime compartilhar, publicar, vender imagens e vídeos de sexo, nudez ou pornografia sem consentimento. As novas regras fazem parte da lei que torna importunação sexual crime. Quem infringir as normas de privacidade pode cumprir pena de um a cinco anos de prisão e, caso o criminoso tenha tido qualquer tipo de relação íntima com a vítima, a pena pode ser ainda maior.
Pornografia infantil é crime
Quando a vítima é menor de 18 anos, o caso se torna crime de pornografia infantil. “Basta possuir fotos de menores, sem precisar ter enviado necessariamente, para configurar como infração”, diz ela. E o problema é que nem sempre há o entendimento por parte dos mais jovens de que eles podem estar cometendo um crime.
A solução, de acordo com ela, passa necessariamente pela educação. A escola pode ser a mediadora dos casos e é muito importante agir rapidamente. Assim que souber de um vazamento, os educadores devem reunir os envolvidos para retirar as fotos da internet imediatamente, antes que elas se espalhem. “Quando o diálogo se esgota, a saída é levar o caso ao Ministério Público”, diz ela.
O Helpline da Safernet orienta pais, crianças e adolescentes em casos relacionados ao sexting. O atendimento pode ser feito por chat ou por e-mail, saiba mais clicando aqui.
Dicas:
- Sempre pense duas vezes antes de enviar imagens íntimas. Evite fazer por impulso;
- Está em dúvida? Não envie.
- Se assim mesmo resolver fazer, desative o backup automático dos seus dados. Isso impede que uma cópia seja feita sem que você perceba;
- Nunca envie por e-mail ou por redes sociais. Evite guardar fotos em sites;
- Tenha sempre senhas seguras (leia mais).
- Compartilhar nudes dos outros sem consentimento é crime!
Evolução dos pedidos de ajuda no casos de “sexting”
O gráfico abaixo mostra o aumento progressivo do casos relacionados ao sexting que foram atendidos pelo Helpline da Safernet desde 2007.

Fonte: Safernet Brasil
Quer saber mais? Assista à entrevista exclusiva que o médico-psiquiatra Jairo Bouer deu ao Dialogando, na qual ele fala sobre sexualidade na era digital e conteúdos inadequados para crianças e adolescentes, clique aqui e confira!
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