Baleia Azul e o risco à vida

24 de abril de 2017

A mídia desempenha um papel muito importante na maneira como enxergamos o mundo, por ser um meio de informação que nos ajuda a saber o que está acontecendo para além do nosso alcance, mas também para entender o que está acontecendo numa esfera mais particular.

É uma grande responsabilidade, que ganha ainda mais latência quando assuntos como o suicídio ganham destaque, como está acontecendo atualmente aqui no Brasil.

O fenômeno da “baleia azul” ganhou os noticiários e as redes sociais como a mais recente causa de uma onda de suicídios entre jovens, levantando duas questões importantes.

A primeira delas é a relação entre imprensa e suicídio. Por um lado, vê-se a necessidade de tratar da questão como uma maneira de desconstruir o tabu em torno dela, se apropriando de informação para levar a prevenção. Por outro lado, a história nos mostra que a abordagem midiática ou representação pode causar um aumento nas ocorrências de suicídio.

E não é de hoje: quando foi lançado em 1774, o livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, em que o protagonista tira sua própria vida ao final, gerou uma onda de suicídios que seguiam o mesmo método narrado, a ponto de ter sido proibido em diversos lugares.

Não são poucos os casos em que a cobertura de um caso de suicídio desencadeia uma série de mortes que seguem o mesmo padrão e a cópia de suicídios já foi objeto de diversos estudos.

Para além das complicações intrínsecas ao tratar do assunto, o caso da “baleia azul” levanta outro ponto relevante sobre a mídia atual. Segundo a SaferNet, esse fenômeno alcançou o Brasil a partir de uma notícia falsa divulgada na Rússia, em março do ano passado, afirmando que 130 adolescentes já haviam se matado por conta desse fenômeno.

Apesar de não ser verdade, ao ser divulgada pela mídia de modo incorreto, inclusive trazendo detalhes do funcionamento do suposto “jogo”, a “baleia azul” trouxe consequências reais: foi a partir dessa repercussão que grupos em redes sociais e em aplicativos de troca de mensagens foram criados com esse nome.

A outra questão que esse caso suscita é sobre o suicídio em si, principalmente quando se trata de adolescentes e jovens adultos. É sempre importante lembrar que o suicídio é um fenômeno complexo, que envolve diversos fatores e não pode ser simplificado.

A World Health Organization aponta como fatores de risco alguns distúrbios mentais, como os de personalidade, depressão, dependência de álcool ou esquizofrenia, e também doenças físicas, como disfunções neurológicas, câncer ou contração de HIV. Ou seja, é uma questão de saúde pública.

Diante dessa questão cheia de variáveis, é muito importante que todos assumam um papel de cautela e responsabilidade.

Siga algumas recomendações para lidar com casos como o da baleia azul.

  • Para a população em geral: buscar informações de qualidade, de preferência em mais de uma fonte confiável e ter muita responsabilidade ao compartilhar conteúdos na internet. Não dê vazão a notícias com tom sensacionalista e só repasse mensagens confiáveis, que tragam informações sobre como buscar ajuda, de preferência.
  • Para a mídia e os influenciadores: entenda quais são as proporções que sua mensagem vai alcançar ao tratar do fenômeno da “baleia azul” e suicídio. Confira a nota oficial da SaferNet sobre o caso específico.
  • Para os pais ou responsáveis: estabeleça com seu filho ou filha uma relação de confiança, abra espaço para um diálogo franco e procure não reprimir ou repreender atitudes e opiniões.
  • Criar um espaço para que o adolescente se sinta seguro para compartilhar o que quer que seja é essencial. Se interesse pela sua rotina, demonstre simpatia por suas preocupações – por menores que sejam, ouça sempre com atenção.
  • Não só por conta das proporções que o caso da “baleia azul” tomou, mas também para cuidar e perceber com facilidade alguma mudança de comportamento. Fique atento a sintomas como isolamento, mudança no apetite e a atitude de evitar a exposição do corpo com roupas de manga comprida ou mais fechadas.
  • Para a escola: os procedimentos caminham muito em paralelo à atitude dos pais, estabelecendo um ambiente seguro de diálogo, sempre com muita atenção e interesse pelo o que os alunos estão dizendo com palavras e com atitudes.
  • Também é muito relevante usar a plataforma da escola para levantar discussões sobre cuidado com a vida e canais de ajuda, deixando sempre o tom sensacionalista de lado e assumindo uma postura de que boas informações levam à prevenção.
  • Para os adolescentes: é importante saber que existem outros caminhos e que existem pessoas e instituições qualificadas para te ajudar. Ligue para o número 188, acesse o site do CVV (Centro de Valorização da Vida) ou procure o helpline da SaferNet – em todos esses canais você encontrará profissionais abertos e dispostos a te ajudar.

Está sofrendo qualquer tipo de ameaça ou pressão? Recorra às autoridades! Induzir, instigar ou auxiliar no suicídio de alguém é crime tipificado no Art. 122 do Código Penal. Denuncie pelo número 190 ou procure o Ministério Público do seu estado.

Fonte: Dialogando - Baleia Azul e o risco à vida Dialogando

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